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Já fazem oito anos, meu irmão

Ideologia do Incra dá de ombros para a morte JOSIAS DE SOUZA DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Da Folha Fazenda Lagoinhas, município de Planaltina (GO). Passava de 22h. De um lado estavam os integrantes da família Amaral, dona da terra. De outro, lavradores sem terra. Entre eles, 30 metros de breu. Penumbra que injetava eletricidade à atmosfera. Súbito, ouviram-se tiros. Deu-se a tragédia. Uma bala calibre 38 perfurou a cabeça de Luiz Carlos Becker Amaral. Levado ao hospital, morreu antes que a destreza dos médicos pudesse ser testada. Aconteceu em 2 de dezembro de 2003. Na véspera, cerca de 40 lavradores sem terra haviam invadido a Lagoinhas. A chegada da polícia, na madrugada de 2 para 3 de dezembro, evidenciava que a coisa desandara. José Ailton da Silva, um dos líderes do grupamento de sem-terra, saiu de fininho. Refugiou-se nos arredores de Brasília. Chamam-no Zé Barriga. Foi apontado em inquérito policial como autor do tiro fatal. Companheiros de

No Castelo de Bremgarten

Quem um dia plantou os velhos castanheiros, quem um dia bebeu a água a esguichar da fonte, quem um dia dançou no salão enfeitado - foram-se todos, esquecidos e enterrados. Hoje é a nossa vez: para nós brilha o dia e cantam para nós alegres passarinhos, sentamo-nos à mesa e sob a luz das velas brindamos ao dia que é para nós eterno. Quando nos formos e estivermos esquecidos, nas árvores altas ainda se há de escutar o gorjeio do melro e o cântico do vento, e lá em baixo entre as pedras o rio a espumar. No vestíbulo, na hora do grito noturno do pavão, hão de estar aqui outras pessoas: falarão, louvarão a maravilha da hora, embandeirados barcos estarão passando, e o eterno presente há de rir como agora. (Hermann Hesse, “As Poesias”, 1942)

Infinito

Eu sabia que um dia ela viria, Íntima de mim a cada instante, Embora oculta em todas minhas mortes. O silêncio outra vez presente. Tentei falar mas não consegui. Dos meus olhos tão perto, Tão distante do coração Não sei onde ficas Viajando por entre a solidão. Não mais juntos: Mas em paralelo, Tão substancialmente sós na apertada solidão, Que nesse silêncio se escuta a respiração de Deus. Na nossa rota não há dois astros Apenas nós e a cósmica solidão Do nosso próprio infinito...   Sônia Schmorantz

Chuva

Chove em silêncio, Pingos incessantes de poesia, Formando molhadas reticências... Há uma chuva em mim e Seu reflexo cinza, triste, Oculta a alegria colorida dos Dias sem medo que eu tinha no coração. Há uma melancolia sem cor, Há uma chuva feito versos, Que corre dentro do coração... .Não quero entender o que não tem explicação... Quero silêncio depois do vento, Quero um novo arco-íris num céu primaveril Quero uma alma quieta, uma luz que silencie, Quero outra vez ser chuva de verão, Serenidade, solo que absorve, Mar, montanha, flor, lua cheia, Amor e vida, em meu coração.... Sônia Schmorantz

O Tempo

O tempo se esfumaça na janela em que se espreita a vida. O alaranjado entardecer traz nostalgia como se a vida também desaparecesse com o sol ao final de cada dia. Não se vive uma história sem amor Não se faz um caminho sem coragem Não se passa os dias em branco. Há em cada dia uma chegada e uma partida, coisas que estão além do bem e além do mal. Cada dia tem sua dose de ironia e de amor sua dose de rotina e sua dose de humor, mas quando chega ao final morrem com ele tudo que se passou, morremos nós. Ficam as lembranças do que marcou, o resto fica num labirinto de imagens, engavetados na memória, sem uso... Cada dia amanhece e anoitece à mesma hora, cada um com seu destino ou desatino, entre um e outro há o tempo que não volta. O tempo parece brincar entre acasos e ocasos, dias compridos, coisas novas e coisas velhas. Depois desarruma tudo e vai embora... Sônia Schmorantz

Para Weni

Um dia, quando chegar a hora Da sua despedida E você tiver que ir embora Mesmo que eu sinta profunda tristeza Prefiro que não me olhe Queria que sua despedida Fosse como a da tarde em relação ao dia Dando lugar à minha lua para enfeitar a noite Que depois cede seu lugar ao sol Para iluminar e aquecer um novo dia Queria que sua despedida Tivesse a leveza de um botão desabrochando em flor Com cor e perfume para alegrar um coração apaixonado O mesmo coração que um dia você em mim se plantou Queria que sua despedida Deixasse em meu coração um lindo jardim Com rosas, margaridas, orquídeas Plantadas por você e com seu jeito de gostar de mim Queria que sua despedida Fosse como a calmaria do mar Tranqüila, serena sem marolas Onde eu possa com minha nau navegar Sem sobressaltos Queria que sua despedida Fosse como a corrente dos rios Que ao encontrar seu destino, o mar Se harmonizam o doce com o sal E se desmancham as tristezas e mágoas Se acaso e

Para minha Rosa Azul

Dá-me a Tua Mão Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio. ( C larice Lispector)

Um pouquinho sobre quem somos... I

Rio Grande do Sul Falar em um Rio Grande do Sul como um estado único é quase que uma força de expressão. Porque aqui existem muitos Rio Grandes diferentes, cada qual com sua cultura, com seus rostos e falas. São as faces do Rio Grande - que são muitas. Há um Rio Grande açoriano, nas pequenas cidades do vale do Jacuí, que atualmente vivem suas pacatas vidinhas de interior, mas que já formaram a linha de defesa deste continente de São Pedro. Há um Rio Grande também português, mas com um rosto diferente, na região da Fronteira, conquistada a ferro e fogo pelos milicianos. Esses dois Rio Grandes, um de bombacha e outro em meio a procissões, têm em comum a origem - portuguesa - e a linguagem. Mas existe outro, em que as exclamações de "tche" se misturam aos "porca miseria". É o dos italianos, nas terras quebradas, com seus parreirais subindo e descendo pelas pirambeiras. Perto dali, tanto em zonas mais baixas - do vale do rio dos Sinos e outros próximo